Desafios do envelhecimento saudável e do declínio cognitivo
Com o processo de envelhecimento, diversos conflitos e dúvidas podem surgir, assim como ocorre em outras transições importantes da vida . O envelhecimento traz consigo novas aquisições e habilidades que precisamos desenvolver para lidar com esses desafios. Um dos aspectos que mais causa preocupação é a perda cognitiva.
Estima-se que existam atualmente mais de 50 milhões de pessoas com demência no mundo, sendo que até 75% desses casos não foram diagnosticados, segundo o World Alzheimer Report de 2021. Em países de renda média e baixa, essa taxa pode chegar a 90% de casos não diagnosticados.
Esse alto índice de subdiagnóstico se deve a diversos fatores, como:
- Falta de acesso a profissionais e centros especializados;
- Estigma associado à demência;
- Métodos diagnósticos frequentemente complexos ou caros;
- Baixa percepção dos sintomas iniciais por parte de familiares e pacientes — já que muitos acreditam ser natural o esquecimento com a idade.
É possível combater o declínio cognitivo?
Esses dados podem causar preocupação e aflição. No entanto, sabemos hoje que cerca de 40% dos casos de demência estão relacionados a fatores de risco modificáveis — ou seja, é possível prevenir o declínio cognitivo em até 4 a cada 10 pessoas.
O relatório da Lancet Commission de 2020 identificou 12 fatores de risco modificáveis, entre eles:
- Dificuldade para ouvir (um dos destaques do estudo)
- Pressão alta
- Tabagismo
- Obesidade
- Depressão (contribuindo para até 40% dos casos)
- Falta de atividade física
Entre outros, como diabetes; isolamento social; consumo excessivo de álcool; trauma na cabeça; poluição do ar; baixa escolaridade.
Ou seja, tratar adequadamente doenças como hipertensão, diabetes, depressão e obesidade pode mudar o curso do declínio cognitivo. Da mesma forma, prevenir quedas, reduzir o consumo de álcool, parar de fumar, praticar atividade física regular e manter relações sociais saudáveis com familiares e amigos são estratégias fundamentais.
Como evitar o declínio cognitivo?
Algumas ações práticas podem ajudar — e já discutimos com mais detalhes quatro delas:
- Organização eficaz dos medicamentos, com uso de agendas manuais ou calendários digitais; (veja exemplos)
- Aferição e controle da glicemia e da pressão arterial, com medições corretas e bem registradas; (veja como aferir sua pressão)
- Uso adequado de dispositivos e próteses auditivas, fundamentais para manter a conexão com o ambiente e reduzir o esforço cognitivo;
- Promoção da atividade física e alimentação equilibrada, essenciais para o funcionamento do corpo e da mente.
Além dessas medidas, também é importante adotar estratégias para prevenir quedas, cuidar da saúde mental com atenção à depressão e ansiedade, reduzir o consumo de álcool e cigarro, manter o cérebro estimulado com aprendizado contínuo e, principalmente, fortalecer os laços sociais, promovendo uma rede de apoio que favoreça o envelhecimento ativo e saudável.
Há tratamento para o declínio cognitivo?
Embora 40% dos fatores associados à demência sejam evitáveis, uma parte importante dos casos ainda decorre de fatores não identificáveis ou não modificáveis, como a predisposição genética. Por isso, além de prevenir, é essencial saber como lidar com a doença quando ela já está presente.
O passo mais importante é reconhecer precocemente os sinais. Sintomas como perda de memória, desorientação, dificuldades de linguagem e alterações no sono podem ser indicativos, mas o diagnóstico só pode ser confirmado por avaliações médicas periódicas.
O tratamento envolve tanto estratégias medicamentosas, quanto não medicamentosas, como: estimulação cognitiva; terapia ocupacional e reabilitação.
Tudo isso com o objetivo de manter a funcionalidade e a qualidade de vida, promovendo um envelhecimento saudável.
Referência
1. LIVINGSTON, G. et al. Dementia prevention, intervention, and care: 2020 report of the Lancet Commission. Lancet, v. 396, n. 10248, p. 413–446, 2020.